segunda-feira, 7 de maio de 2007

Das levezas e intensidades



Lisboetas (Sérgio Tréfaut - Portugal) ***









Sérgio Tréfaut, que esteve presente na sessão (por sinal, trazendo a má notícia de que o assistiríamos em DVD e não em 35mm), apresenta um belo filme no festival. O dia foi bem cansativo pra mim, o que influenciou na forma como assisti os dois documentários da noite. Logo, considerei ele um pouco pesado. Porém, nada a se dar muita atenção pois existiam influências que já expliquei.
Lisboetas é um documentário reflexivo sobre a presença de tantos povos de nacionalidades diferentes vivendo em Portugal. Lisboa tem a marca impressionante de três jornais publicados em russo, graças a enorme quantidade de pessoas da Ucrânia e Rússia que vivem ali. Tréfaut tem um olhar que contempla e nos faz refletir nos longos planos que mostram os imigrantes brasileiros, japoneses, ucranianos em suas diversas atividades. Intercalando o filme em partes divididas para cada povo que vive em Lisboa, Tréfaut consegue sintetizar que a vida dessas pessoas está trazendo novos olhares tanto para elas como para todo o país. Em Lisboa, nova geração (mais multicultural do que nunca) brinca na fonte, na praia e outra já está nascendo.


Estamira (Marcos Prado - Brasil) *****











Não sei se já consigo dizer tudo que quero sobre Estamira. É possível começar falando do choque causado, da força mas, certamente, é muito pouco perto do que representa a obra. Marcos Prado construiu uma relação com uma personagem com uma riqueza retórica claramente infinita. É possível produzir dezenas de filmes sobre ela, volumes de livros com tudo que ela tenha para dizer (fazendo sentido ou não). A sensibilidade do diretor na construção dos planos de todo o lixão e na relação dessa catadora de lixo que tem o diagnóstico de psicose em evolução crônica segundo seu médico, é de uma beleza dessas que você encontra poucas vezes na vida. Estamira é obra-prima por ter estampado em cada grão do filme a visceralidade de uma mulher marcada por uma vida extremamente tortuosa e pela paixão de um realizador que pretende mostrar tudo que é possível dessa visceralidade. Estamira é como o mar que ela encontra depois de tantos discursos: revolto, esbravejante, intenso.



Oficina de video experimental


Um dia e tanto de descobertas. Antes da preciosidade que veio à noite, desde ontem (domingo) tenho visto filmes incríveis na oficina com a ótima Paula Gaitán. No domingo pela manhã conheci o trabalho de Maya Deren e Jean Cocteau. A primeira, com seu Meshes of the Afternoon (1943), me fez ver claramente a fonte de inspiração (se não direta, ao menos indiretamente) de David Lynch para Cidade dos Sonhos. Aqui, Maya Deren trabalha com elementos que, aqueles que assistiram a obra de Lynch vão logo associar: sonhos dentro de sonhos, protagonista feminina em crise onírica e face a face com seu duplo.

Já em O Sangue de um Poeta (1930) de Jean Cocteau, fui lançado direto num mundo situações surrealistas. O filme traz um conceito fantástico sobre a vida e obra de um poeta, sua relevância na sociedade, narcisismo, através de construções imagéticas extremamente modernas para a época e incríveis jogos de truncagem e ilusão de óptica.

Entre tantas outras obras que assisti (incluindo trabalhos de participantes da oficina), quero destacar aquela que talvez seja uma das minhas descobertas mais incríveis na vida de cinefilia. Martin Arnold era um desconhecido para mim. Seu nome ou obra nunca havia chegado aos meus ouvidos e, nossa...graças a Deus por Paula Gaitán estar em João Pessoa! Que preciosidade! O conceito parece simples: fazer um trabalho de edição em cima de trechos de filmes B americanos. Porém, é muito mais o que se pode ver em
Alone: Life Wastes Andy Hardy (1998) e em passage á l'act (1993). Há uma construção única, irônica e extremamente politizada. O american way of life e, digamos o "american way of cinema" são criticados de uma forma que nunca vi parecida. Sei que estou vago em minhas palavras, e é por isso que, logo abaixo está um pequeno trecho de "Alone", disponível no Youtube. Garanto, olhando assim, vai parecer realmente muito, muito estranho.





No mais, deixo a lista completa do que assiti ontem e hoje, cotações, links e um "abraço, até amanhã!" =)

O Sangue de um Poeta - Jean Cocteau ***
Meshes of the Afternoon - Maya Deren **** (Completo no Youtube)
The Agent 1880 - Andrhey Ferreira *** (video que merece grande atenção por detalhes curiosos. Pretendo falar mais sobre ele em breve)
Poeira i Poesia III - Tambla Almeida ***
Anemic Cinema - Marcel Duchamp ****
Alone: Life Wastes Andy Hardy - Martin Arnold *****
passage á l'act - Martin Arnold ****
Lisboetas -
Sérgio Tréfaut ***
Estamira - Marcos Prado *****





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