sexta-feira, 18 de maio de 2007

tudo que vi

Cineport acabou, Suely venceu, Estamira venceu, Cartola venceu, Trecho venceu e Um Fazedor de Filmes venceu. Estou infinitamente satisfeito.


Todos os vencedores aqui


Tudo que vi por lá (tá com numeros pq são minhas anotações do ano):

correções: acrescentei "Pele" e "Coisa Ruim", havia esquecido.

69. Desistfilm | DVD| *** | (Stan Brakhage-curta)
70. Wedlock House: an intercouse | DVD | **** | (Stan Brakhage-curta)
71. Cats Craddle | DVD | *** | (Stan Brakhage-curta)
72. Window Water Baby Moving | DVD | **** | (Stan Brakhage - curta)
73. O Sangue de um Poeta | DVD | *** | (Jean Cocteau-curta)
74. Meshes of the Afternoon | VHS | **** | (Maya Deren-curta)
75. The Agent 1880 | DVD | *** | (Andrhey Ferreira-curta)
76. Poeira i Poesia III | DVD | *** | (Tambla Almeida-curta)
77. Anemic Cinema | VHS | **** | (Marcel Duchamp-curta)
78. Alone: Life Wastes Andy Hardy | VHS | ***** | (Martin Arnold)
79. passage á l'act | VHS | **** (Martin Arnold-curta)
80. Lisboetas (doc) | Cinema | *** (Sérgio Tréfaut-PT)
81. Estamira (doc) | Cinema | ***** (Marcos Prado)
82. Canto de Amor | DVD | ** (Jean Genet-curta)
83. The Knife | DVD | ** (Jack Goldstein-curta)
84. A viagem à Lua | VHS | *** (Meliès)
85. O Bolo | Cinema | * (Taciano Valério-curta)
86. Um Fazedor de Filmes | Cinema | **** (Arthur Lins e Ely Marques-curta)
87. SHSHSH: Sintonia Incompleta | Cinema | *** (Mário Jorge Neves-Portugal, animação, curta)
88. Cara de Cão | Cinema | * (Helena Lustosa-curta)
89. O Veneno da Madrugada | Cinema | ** (Ruy Guerra)
90. 98 Octanas | Cinema | *** (Fernando Lopes, Portugal) ***
91. Juventude em Marcha | Cinema | (Pedro Costa, Portugal)
92. Sete Minutos | Cinema | (Cavi Borges, Brasil) **
93. Sal Grosso | Cinema | *** (André Amparo e Ana Cristina Murta, Brasil-curta)
94. The End | Cinema | * (Victor Candeias, Portugal-curta) *
95. Balada das Duas Mocinhas de Botafogo | Cinema | *** (João Caetano Feyer e Fernando Valle, Brasil, curta)
96. Tapa na Pantera | Cinema | **** (Ioiô Filmes, Brasil-curta)
97. Moacir Arte Bruta | Cinema | (doc) ***
98. Pequenos Tormentos | Cinema | ***
99. Voz de Trombeta | Cinema | ***
100. Trecho | Cinema | ****
101. Cartola | Cinema | ****
102. Jaguaribe Carne: alimento da guerrilha cultural | Cinema | **
103. O Céu de Suely | Cinema | ****
104. Um fazedor de filmes | Cinema | **** (3ª vez)
105. Pele | Cinema | * (Portugal)
106. Coisa Ruim | Cinema | ** (Portugal)



ao todo foram 35 audições em 10 dias de festival (num tem céeeerebro que aguente), 8 para longas e todo o resto para curtas. Sendo que vi Cartola e Um Fazedor de Filmes duas vezes. Céu de Suely eu já tinha assistido no cinema.


Para mim o melhor filme do festival foi realmente Estamira, meche com seu estômago, ou qualquer coisa que fique perto disso... O mais surpreendente foi Juventude em Marcha, pelo desconcerto que ele faz na sua cabeça pseudo-entendida de cinema. Cartola pra mim foi o mais emocionante, por mexer com o imaginário cultural brasileiro em longas décadas e ter as canções mais bonitas do mundo. Deixa Vinícius no chinelo.




Além desses filmes, durante as duas últimas semanas eu tomei overdese de outros dois filmes extremamente livres, O Signo do Caos (grande Rogério Sganzerla) e Serras da Desordem (meu primeiro filme de Andrea Tonacci...preciso assistir Bang-Bang)

66. O Signo do Caos | DVD | ***
67. Flores Partidas | DVD | ***
68. Serras da Desordem | DVD | ***



Peguei DVD emprestado e vou assistir alguns dos curtas que passaram quando faltei à oficina. Pelechiant. Já vi Os Habitantes e tem uma fotografia do caos que é possivel fazer relação clara com Marcos Prado em Estamira.


Por sinal, estou irado. O texto da Contracampo teve a coragem de dizer que a fotografia de Estamira é clichê. Tô pra achar pretensão maior. Por favor!




grande abraço!

em breve, novidades.

sábado, 12 de maio de 2007

Semcor no Cineport

Eae



bom, estou aqui, ao fim de festival para dar uma notícia que muito me alegra. Como resultado da oficina de video experimental com Paula Gaitán, meus videos terão exibição no festival.

Logo, convido a todos para amanhã (domingo) as 16h estarem na Andorinha Digital (vizinho ao Palco) na Usina Cultural da Saelpa. Serão exibidos videos de toda a turma que participou da oficina e alguns de meus videos (incluindo um inédito) serão apresentados.

Estou feliz e tá saindo pelos poros!

abraço's =)

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Surpresas portuguesas

A última quinta-feira foi um dia de grande expectativa para mim. Há muito que leio com freqüência rígida as revistas eletrônicas de cinema Contracampo e Cinética. As duas, na temporada passada de festivais, citaram com grande entusiasmo o filme Juventude em Marcha do realizador português Pedro Costa. Alguns dos jornalistas que escrevem para a revista publicaram textos realmente apaixonados pelo filme e até o elegeram como o melhor das mostras. Tais críticos de cinema tem o prazer de poder conferir grandes filmes com certa freqüência devido ao local onde moram. Porém, leitores de cidades "distantes" como João Pessoa, dificilmente tem acesso aos mesmos filmes, a não ser pela internet. Logo, Juventude em Marcha era para mim um filme que trazia muita curiosidade e expectativa. Quase fiz festa quando soube que haveria a exibição do mesmo no 3º Cineport. Porém, não é dele que quero falar ainda.

98 Octanas (Fernando Lopes, Portugal) ***


Ao contrário das outras ficções de Portugal que assisti no festival (Pele e Coisa Ruim), esse filme de Fernando Lopes traz zelo na direção, fugindo de clichês. Assim como tantos outros diretores portugueses, nunca vi nenhum outro filme de Lopes, porém, 98 Octanas tem um traço autoral claro. História simples (apesar de atrair poucos): casal se encontra em loja de conveniência no meio de viagem e o homem dá carona a mulher. Os dois começam aí uma relação travada por dureza nas palavras, no falar. Isso, quando se fala. Enquanto Maria está sempre disposta a conhecer mais Rogério, ele está sempre distante, sendo grosso e frio. Aos poucos, durante a viagem, são revelados segredos de cada um que fazem a relação se aprofundar.

Road-movie sem necessariamente ter esse gênero traçado com precisão, 98 Octanas tem como ponto forte a sinceridade na direção. Planos-sequência trabalhados de forma a construir uma mise-en-scene rica em tensão, revelações, trabalhando o movimento dos corpos no espaço com beleza que não se viu muitas vezes no festival. No trato da relação de afeto entre os dois personagens, há muito de Um amor à flor da pele de Wong Kar-Wai. Tudo parece estar sempre por acontecer, mas não se concretizam os desejos. Um filme rico em sensações. Falha, por muitas vezes, nos diálogos, que se tornam um tanto bobos em muitas vezes. Penso que há aí uma diferença cultural que não torna o filme tão universal quanto poderia. Porém, diante de algumas péssimas obras portuguesas que apareceram pelo festival e que concorrem em categorias principais, fico sem entender por que 98 Octanas concorre apenas ao prêmio de melhor música (ótima por sinal) e melhor ator, para Rogério Samora.



Juventude em Marcha (Pedro Costa, Portugal)


Peço sinceras desculpas aos leitores. Um filme atordoante que não me sinto preparado para escrever sequer algumas linhas. “Desconcertante” talvez seja a única palavra que quero deixar por enquanto. O filme de Pedro Costa não se enquadra em nada que conheço. Nem uma nota eu ouso deixar. Porém, para não dizer que sou um incompetente por inteiro, deixo apenas algumas citações da conversa pós-sessão com o amigo Arthur Lins:

“O montador foi quem apresentou o filme. Acho que você não tava na sala ainda. Ele veio informar que ao contrário dos 93 minutos que estão no programa, na verdade eram 155 minutos!”

“Ele está aí? Preciso ir perguntar a ele se ele não teve vontade de cortar mais...(risos)”.

“Cara, o Ventura parece um fantasma, né? Essa coisa dele ficar lá dormindo sozinho no apartamento, o jeito dele andar...”

“Sim...é mesmo. Várias vezes no filme eu me lembrei do Last Days de Gus Van Sant”.

“A legenda é que complicou. Uma hora tem legenda, outra não! O que era aquilo? Quis entender a carta que ele repetiu 10 vezes e nenhuma vez teve legenda”.

“Fotografia e planos são completamente fora do padrão, né? Tudo com muito teto, enquadrando muito perto do chão, sem profundidade de campo, muitos brancos em contraste com a pele e roupa do Ventura”.



No mais, filmes assistidos ontem:

98 Octanas (Fernando Lopes, Portugal) ***
Juventude em Marcha (Pedro Costa, Portugal)

Curtas:

Sete Minutos (Cavi Borges, Brasil) **
Sal Grosso (André Amparo e Ana Cristina Murta, Brasil) ***
The End (Victor Candeias, Portugal) *
Balada das Duas Mocinhas de Botafogo (João Caetano Feyer e Fernando Valle, Brasil) ****
Tapa na Pantera (Ioiô Filmes, Brasil) ****




Hoje é a noite de Cartola, O Ano em que meus pais saíram de férias e O Céu de Suely. Além do novo filme de Kiko Goifman.

abraço's!

quarta-feira, 9 de maio de 2007

O veneno do cansaço



Participar de um festival de cinema numa maratona de filmes durante o dia inteiro é diferente. Estou na oficina (último dia) com Paula Gaitán e, apesar de vermos em geral, curtas-metragens, vemos em grande quantidade e de conteúdo bastante complexo: cinema não-narrativo, poético, contemplativo. Desde Meliès até Martin Arnold. Como Paula intitula sua mostra no Rio de Janeiro, “Cinema que Pensa”.

Nesse contexto de passar o dia inteiro na Usina Cultural da Saelpa (locação do Cineport), quando chegamos à noite para assistir aos longas da competição de 35mm, temos a mente e corpo cansados, o que atrapalha bastante a recepção de belas obras como O Veneno da Madrugada de Ruy Guerra.

Porém, a força do filme foi claramente maior que o cansaço. O trabalho de Guerra junto a Walter de Carvalho (que, por sinal, me parece que nunca erra na fotografia, seja qual for o trabalho) é carregado de uma plástica extremamente influenciada pelos quadros de Goya. A construção dos planos está, muitas vezes, delimitada pelo uso de janelas, paredes, sombras, como nos filmes de Wong Kar-Wai. O uso de planos-sequência, junto a esses recursos visuais, traz uma dinâmica única ao filme. Somos um personagem que está sempre observando tudo às escuras, descobrindo os segredos do povoado onde se passa a ação do filme.

Ruy Guerra usa toda essa estética para atingir o objetivo vertiginoso da história. Nunca está claro no filme as verdadeiras intenções de cada um. O enredo é muito mais para ser sentido através da dimensão sensorial proporcionada nas imagens e, de forma peculiar, nos sons. Todos eles com força extrema, vindo de forma brusca. Os climas, muito bem construídos, de tensão e agonia (representada na metáfora do dente podre do Alcaide) tem apenas o pequeno erro de usar trovões repetidas vezes em falas mais dramáticas ou reveladoras. Um filme que merece ser revisto graças a sua carga emocional e direção muito bem trabalhada.


Últimos filmes vistos no CIneport


CURTAS

Canto de Amor – Jean Genet **
The Knife – Jack Goldstein **
A viagem à Lua – Meliès ***
O Bolo – Taciano Valério *
Um Fazedor de Filmes – Arthur Lins e Ely Marques ****
SHSHSH: Sintonia Incompleta – Mário Jorge Neves (Portugal, animação) ***
Cara de Cão – Helena Lustosa *

LONGAS

O Veneno da Madrugada – Ruy Guerra ***

Curtas paraibanos



No período da tarde pude assistir a sessão de vídeos paraibanos do prêmio Cineport / Saelpa. No dia, apenas duas apresentações: O Bolo de Taciano Valério (Campina Grande) e Um Fazedor de Filmes de Arthur Lins e Ely Marques.

O Bolo é uma ficção de 17 minutos que tem como foco a história de Mirela, uma menina que espera que seu pai, um cordelista, traga para casa ao fim do dia um bolo.

Taciano Valério é o realizador campinense que teve destaque em 2005/2006 com seu documentário O Buraco, sobre um velho que tem memórias delirantes sobre sua participação na 2ª Guerra Mundial. O diretor demonstrou em seu documentário que tinha potencial para desenvolver um bom trabalho futuro. Porém, não é o que acontece em O Bolo. O curta é mal trabalhado, especialmente no roteiro. Pareceu muito forçada a idéia de um artista não poder levar um bolo para casa por não valorizarem seu trabalho. Apesar de ser uma realidade, existem muitas implicações que poderiam gerar diversas situações que não são exploradas no filme. A carga dramática que se pretendia à visão da menina Mirela fica deficiente até pelo uso da animação mal feita (afinal, quem tem feito essas animações em Campina? Manoel Monteiro tem dessas e não dá pra entender por que fazem essas escolhas). Por fim, aplausos frios e tímidos. Um filme que poderia dar muito mais, ficou devendo.


É tudo encanto

(sou entusiasta deste documentário do meu amigo Arthur Lins. Assistindo-o pela segunda vez, apenas tive a certeza de que deveria publicar o texto que escrevi na ocasião do seu lançamento em novembro do ano passado).


Um Fazedor de Filmes é um filme sobre encanto. Sobre três tipos de encanto que regem três tipos de relação com o cinema (ou vídeo, como queiram). O encanto de um cineasta amador que, um dia, descobriu na sétima arte um sentido para algo que ele buscava percebendo ou sem perceber. Ivanildo queria ser ator e descobriu que fazendo filmes poderia ser um. Sendo o diretor, podia sim incluir-se como um dos participantes do elenco. E assim o fez, juntando amigos que pareciam gostar da brincadeira de filmar histórias interessantes. Tudo encanto por esse mundo de interpretar frente a uma caixa com lentes que poderiam fazer deles novas pessoas e da cidade de Soledade, novo mundo. Encanto pela idéia desse enredo ser apresentado em telão na praça pública para todos da cidade.

Há um outro encanto. O de quem tem o olhar em busca de grandes achados, mesmo que estes, por muitos, não sejam considerados grande coisa. O encanto de quem está atrás da beleza de um depoimento que vem naturalmente. A beleza de uma descoberta que traz novo fôlego a essas buscas. Arthur Lins e Ely Marques acham Ivanildo e seus colegas e ali firmam relação que, por certo, não se resume a de entrevistado e entrevistador. Parece, pelo o modo de filmar dos diretores, pelo o modo de colher esses depoimentos, que não há necessidade de um espectador. Que a conversa não está para um possível grupo de pessoas que um dia talvez assistiriam numa sala escura tudo aquilo que fora captado. Arthur e Ely são os primeiros espectadores do filme. Por isso, suas intervenções - perguntando e acrescentando-se às falas de alguns dos entrevistados -, não parecem ser de um diretor de documentário perguntando para seu "objeto de estudo/apresentação ao mundo". Mas, parece sim, o que nós gostaríamos de perguntar a Ivanildo se tivéssemos o descoberto.

Mas há espectadores. Aí entra o terceiro encanto. Como Ivanildo, muitos sonham em fazer filmes. Mesmo que por brincadeira ou, realmente, levando a sério. Os sites de relacionamento através de divulgação de material audiovisual estão aí para comprovar. Todos querem filmar e mostrar. Contar histórias através da força simbólica da imagem. Há espectadores e esses querem ser fazedores de filmes. Sejam estes, filmes que descobrem ivanildos ou filmes que atraem outros arthurs e elys. A riqueza de Um Fazedor de Filmes está no encontro dos três encantos que o rondam. Os encontros são o clímax da metalinguagem que atravessa todos os relatos. A história de Ivanildo não poderia ser contada num livro ou no rádio com a mesma riqueza. Pura metalinguagem. Puro cinema.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Das levezas e intensidades



Lisboetas (Sérgio Tréfaut - Portugal) ***









Sérgio Tréfaut, que esteve presente na sessão (por sinal, trazendo a má notícia de que o assistiríamos em DVD e não em 35mm), apresenta um belo filme no festival. O dia foi bem cansativo pra mim, o que influenciou na forma como assisti os dois documentários da noite. Logo, considerei ele um pouco pesado. Porém, nada a se dar muita atenção pois existiam influências que já expliquei.
Lisboetas é um documentário reflexivo sobre a presença de tantos povos de nacionalidades diferentes vivendo em Portugal. Lisboa tem a marca impressionante de três jornais publicados em russo, graças a enorme quantidade de pessoas da Ucrânia e Rússia que vivem ali. Tréfaut tem um olhar que contempla e nos faz refletir nos longos planos que mostram os imigrantes brasileiros, japoneses, ucranianos em suas diversas atividades. Intercalando o filme em partes divididas para cada povo que vive em Lisboa, Tréfaut consegue sintetizar que a vida dessas pessoas está trazendo novos olhares tanto para elas como para todo o país. Em Lisboa, nova geração (mais multicultural do que nunca) brinca na fonte, na praia e outra já está nascendo.


Estamira (Marcos Prado - Brasil) *****











Não sei se já consigo dizer tudo que quero sobre Estamira. É possível começar falando do choque causado, da força mas, certamente, é muito pouco perto do que representa a obra. Marcos Prado construiu uma relação com uma personagem com uma riqueza retórica claramente infinita. É possível produzir dezenas de filmes sobre ela, volumes de livros com tudo que ela tenha para dizer (fazendo sentido ou não). A sensibilidade do diretor na construção dos planos de todo o lixão e na relação dessa catadora de lixo que tem o diagnóstico de psicose em evolução crônica segundo seu médico, é de uma beleza dessas que você encontra poucas vezes na vida. Estamira é obra-prima por ter estampado em cada grão do filme a visceralidade de uma mulher marcada por uma vida extremamente tortuosa e pela paixão de um realizador que pretende mostrar tudo que é possível dessa visceralidade. Estamira é como o mar que ela encontra depois de tantos discursos: revolto, esbravejante, intenso.



Oficina de video experimental


Um dia e tanto de descobertas. Antes da preciosidade que veio à noite, desde ontem (domingo) tenho visto filmes incríveis na oficina com a ótima Paula Gaitán. No domingo pela manhã conheci o trabalho de Maya Deren e Jean Cocteau. A primeira, com seu Meshes of the Afternoon (1943), me fez ver claramente a fonte de inspiração (se não direta, ao menos indiretamente) de David Lynch para Cidade dos Sonhos. Aqui, Maya Deren trabalha com elementos que, aqueles que assistiram a obra de Lynch vão logo associar: sonhos dentro de sonhos, protagonista feminina em crise onírica e face a face com seu duplo.

Já em O Sangue de um Poeta (1930) de Jean Cocteau, fui lançado direto num mundo situações surrealistas. O filme traz um conceito fantástico sobre a vida e obra de um poeta, sua relevância na sociedade, narcisismo, através de construções imagéticas extremamente modernas para a época e incríveis jogos de truncagem e ilusão de óptica.

Entre tantas outras obras que assisti (incluindo trabalhos de participantes da oficina), quero destacar aquela que talvez seja uma das minhas descobertas mais incríveis na vida de cinefilia. Martin Arnold era um desconhecido para mim. Seu nome ou obra nunca havia chegado aos meus ouvidos e, nossa...graças a Deus por Paula Gaitán estar em João Pessoa! Que preciosidade! O conceito parece simples: fazer um trabalho de edição em cima de trechos de filmes B americanos. Porém, é muito mais o que se pode ver em
Alone: Life Wastes Andy Hardy (1998) e em passage á l'act (1993). Há uma construção única, irônica e extremamente politizada. O american way of life e, digamos o "american way of cinema" são criticados de uma forma que nunca vi parecida. Sei que estou vago em minhas palavras, e é por isso que, logo abaixo está um pequeno trecho de "Alone", disponível no Youtube. Garanto, olhando assim, vai parecer realmente muito, muito estranho.





No mais, deixo a lista completa do que assiti ontem e hoje, cotações, links e um "abraço, até amanhã!" =)

O Sangue de um Poeta - Jean Cocteau ***
Meshes of the Afternoon - Maya Deren **** (Completo no Youtube)
The Agent 1880 - Andrhey Ferreira *** (video que merece grande atenção por detalhes curiosos. Pretendo falar mais sobre ele em breve)
Poeira i Poesia III - Tambla Almeida ***
Anemic Cinema - Marcel Duchamp ****
Alone: Life Wastes Andy Hardy - Martin Arnold *****
passage á l'act - Martin Arnold ****
Lisboetas -
Sérgio Tréfaut ***
Estamira - Marcos Prado *****





sábado, 5 de maio de 2007

Stan Brakhage


Estive hoje pela manhã no primeiro momento da oficina de Video Experimental com Paula Gaitán no 3º CinePort. Paula é uma estudiosa do assunto e possui uma mente recheada das melhores informações que podemos obter sobre o assunto desde uma análise histórica até a mais profunda compreensão estética.

A princípio, iniciaríamos a oficina assistindo às obras de início do cinema, para um olhar sobre a experimentação da gênesi do audiovisual. Porém, Lumiére e Meliès, graça falhas técnicas ficaram para trás e pude entrar em contato com o mundo de Stan Brakhage. Paula nos apresentou este realizador americano através de uma série de curtas que estão nos DVD's da antologia que foi lançada com 200 trabalhos, ou mais.


Brakhage é um autor completo nessa vertente do cinema, o experimental. Fica muito claro, desde um dos seus primeiros trabalhos, "Desistfilm" o seu desejo viceral de descobrir um novo olhar, de experimentar tudo que uma câmera pode oferecer (no primeiro momento), indo até tudo que a montagem pode oferecer.


No mais, prefiro me limitar a estas poucas palavras. Dois filmes em especial me marcaram e um dia, caso possa reassistí-los (possivelmente ainda na oficina), possa escrever melhor sobre eles. São: "Wedlock House: an intercouse", curta em que Brakhage trabalha a formação primária das imagens, invertendo o conceito de iluminação (escuro para claro ao invés de tudo à mostra) e "Window Water Baby Moving", espécie de documentário em que o autor filmou o parto de uma filha, exibindo tudo que fosse possível exibir.




(( mais sobre Brakhage ))


Filmes vistos hoje:


Desistfilm (Stan Brakhage) - ***
Wedlock House: an intercouse (Stan Brakhage) - ****
Cats Craddle (Stan Brakhage) - ***
Window Water Baby Moving (Stan Brakhage) - *****




Amanhã continuo na oficina e somente segunda-feira começo a assistir filmes oficiais do Festival. Estamira vem aí!

abraço's

sexta-feira, 4 de maio de 2007

3º Cineport em João Pessoa






Eles chegaram e comunicaram: 3º Cineport - Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa terá sua edição de 2007 em João Pessoa, Paraíba. É claro que os pessoenses ficaram felizes, não existe festival de cinema (leia-se festival com competição de filmes em película e digital) em João Pessoa. Temos o bebê FestAruanda, que destina-se exclusivamente a produção de videos universitários do Brasil.

Em seguida, ainda antes de anunciarem os indicados do ano, soltam a notícia que mais nos empolga: o festival terá como sede João Pessoa. Um ano em Portugal ou África e, no outro ano, sempre João Pessoa. Uau!

Não dava para acreditar em tamanha oferta até que vieram os indicados e eu me senti, de verdade, na preparação para um ótimo evento de audiovisual:

No troféu Andorinha (para longas de ficção em 35mm), concorrem:


“O Céu de Suely” de Karin Aïnouz (Brasil)
“O Ano em Que Meus Pais Sairam de Férias” de Cao Hamburguer (Brasil)
“Coisa Ruim” de Tiago Guedes e Frederico Serra (Portugal)

“O Jardim de Outro Homem” de Sol de Carvalho (Moçambique)

e para melhor direção no mesmo prêmio:

Brasil - Karin Aïnouz
Filme “O Céu de Suely”

Portugal - Pedro Costa
Filme “Juventude em Marcha”

Moçambique - Sol de Carvalho
Filme “O Jardim de Outro Homem”


Ok...eu esperava pelo Juventude em Marcha que nem espero pelo Crime Delicado de Beto Brant...há muito tempo! Em 2007 os dois finalmente chegaram por perto e vou poder assistí-los. Infelizmente, Crime Delicado apenas em DVD, porém, Juventude em Marcha de Pedro Costa em película e num festival em que existe a possibilidade até do diretor estar presente.

Além desses filmes, quero deixar os destaques que serão exibidos e merecem atenção:

- Estamira (apesar de não concorrer na categoria merecida, que é a de melhor documentário)
- Cartola
- Wood & Stock
- Bombadeiras
- Lisboetas (Portugal)
- A Concepção (vou poder assistir numa boa exibição...a última vez no Cine Banguê é melhor não comentar...)
- O Veneno da Madrugada

Destaques para os filmes paraibanos na mostra de curtas daqui:

os ótimos documentários...

- Um Fazedor de Filmes
- Seu Pita Social Clube
- A gente perde...a gente ganha

Assistam o novo DOCTv da Paraíba se tiverem alguma curiosidade, pois "Manoel Monteiro em verso e prosa" é ruim de doer.

No mais, deixo a última indicação, que não é fílmica: Oficina de Video Experimental com Paula Gaitán. Já estou inscrito e começa no sábado dia 05 às 9h.

Infelizmente não estarei na abertura mas a partir de sábado já começo a morar por lá. Este será o espaço em que divulgarei a opinião sobre tudo que assisto. Inauguro o blog que em breve contará com parcerias para análise de cinema e youtube.

Grande abraço!